Outro dia minha filha mais nova sentenciou:
- Mãe, no futuro só quem não tiver dinheiro vai envelhecer.
Na mesma hora pensei: pronto, já inventamos uma nova forma de distinção social e de segregação. Quem tem dinheiro vai fazer procedimentos estéticos e manter a cara impecável (ageless) e quem não tem vai conviver com as rugas e a flacidez. Não evoluímos nunca para diminuir a desigualdade, ela vai sempre se esgueirando e criamos outros modos de manter os grupos sociais em estágios separados. O empenho da humanidade não está em reduzir as distâncias, mas em produzir, continuamente, a separação. Não basta a segregação social, econômica, racial, de gênero, de classe… em breve também teremos a estética.
O impacto da afirmação dela, feita enquanto comentávamos sobre a multiplicação das clínicas de botox e outros procedimentos em shoppings, nem me deixou espaço para argumentar.
Foi só mais tarde que me dei conta da grande ilusão que estamos construindo. Todo mundo vai envelhecer, rico ou pobre, com ou sem dinheiro, se tiver as condições para viver (o que nem sempre está disponível para grande parte da população brasileira). Só que produzimos esta falsa ideia de que, ao esticarmos, preenchermos, alisarmos, não só paramos o tempo como somos capazes de revertê-lo: vamos rejuvenescer.
No fundo, estamos apenas nos esforçando para não parecer mais velhas e mais velhos, porque é isso que todos estes procedimentos fazem - atuar na aparência, no aspecto mais externo de nós mesmos, sem de fato trazer consequências reais para o processo do envelhecimento.
O Carnaval está começando, trazendo sua costumeira brisa de fantasias, purpurina e maquiagem. Durante quatro (quatro? ou cinco, dez, quinze?) dias, reina esta vontade de alegria permanente, sem horas e sem compromissos, sem o cotidiano das tarefas e do trabalho (muito embora para muitas pessoas o Carnaval seja realmente uma atividade profissional). Mas temos consciência de que o Carnaval não dura pra sempre, mesmo que todo ano tenha Carnaval! Então quem gosta da folia se joga na diversão enquanto ela dura. E depois, retorna à vida “normal”.
Parece que esta busca pelo estado permanente de juventude é um pouco como se a gente quisesse que fosse Carnaval o tempo inteiro. Sem a parte rotineira da vida….
Aqui nada contra quem faz procedimentos, não há um juízo moral neste texto. Só precisamos ter a noção de que vamos envelhecer, de todo modo, com ou sem o apoio da cosmética, da cirurgia plástica e dos aparelhos de nome diferente.
Que este envelhecimento seja vivido com os ecos da alegria carnavalesca!
Bom Carnaval para você, seja na folia ou no descanso!
O sorriso é o melhor tratamento de beleza! Tem efeito imediato, não tem contraindicações e é de graça. E é democrático! O sorriso é uma expressão da alegria, ingrediente essencial para nossa saúde.